Silêncio Conveniente
Mais um carnaval chegou ao fim. Esse foi mais especial para mim por ter sido o de número 30 que participei. Depois de tantos anos comandando trios, tenho a preocupação de que, se nada for feito, o modelo que transformou nosso carnaval na maior festa do planeta pode estar com os seus dias contados.
O carnaval que se encerrou em Salvador perdeu totalmente o sentido que o transformou em uma manifestação popular de alcance internacional. O elemento mais importante da festa, até hoje, sempre foi o folião de rua. Por essa razão, Salvador passou a ser desejada, dentre outros motivos, por possuir um fantástico carnaval de rua.
O que vi de cima do trio esse ano, foi mais uma festa indiscutivelmente grandiosa, comandada por grandes artistas de diversos estilos musicais, que movimentou economicamente a cidade, mas com cada vez menos apelo popular.
Só posso falar do circuito Barra/Ondina, que é o que tenho desfilado nos últimos dez anos. O que aconteceu por lá, no meu entender, passou do limite do que se possa chamar de razoável. Engarrafamentos e atrasos não são uma novidade dos dias atuais, eles sempre existiram. Esse foi, inclusive, o motivo do surgimento, no passado, de uma fila que, até hoje, ordena o desfile dos blocos.
Há alguns anos se fala que o carnaval de Salvador está privatizado pelos blocos. A minha opinião sempre foi divergente. Vejo os blocos como os grandes responsáveis pelo surgimento dos artistas que levaram a música das ruas de Salvador para o mundo. Nenhum de nós conseguiria chegar aonde chegou sem o apoio deles. Portanto, mesmo sabendo que muitos pensam diferente de mim, não acho os blocos de trio os vilões dessa história. Ainda defendo que continuam sendo fundamentais.
Para mim, o que hoje determina a desconfiguração do nosso carnaval é a dinâmica imposta à festa pela evolução dos camarotes. No desfile deste ano, apesar de algumas quebras de trios, a relação artista / camarote, foi a maior responsável pelo monumental atraso ocorrido. Ressalto que não sou contra a existência de camarotes, muito pelo contrário. Há 10 anos exploro um espaço aonde monto um. Esse ano funcionou lá o de minha amiga Claudia Leitte. Discordo é da maneira como eles estão interferindo na festa.
Atualmente, cada vez mais artistas se tornam donos ou parceiros de algum camarote. Até aí nada de errado, se esses espaços fizessem parte da festa de rua como uma opção para quem preferisse curtir com todos os confortos que eles oferecem.
Hoje, o fluxo do desfile está sendo ditado não mais pelos foliões das ruas. Cada artista, ao chegar em frente ao seu camarote, passa a fazer um show, quase que exclusivo, para os que lá estão, como se nada mais no circuito importasse. Alguns deles contam hoje com passarelas que transportam as atrações para dentro, onde as apresentações são feitas, sem levar em conta quem está nas ruas.
Fico me perguntando o que passa na cabeça de um folião que pagou por um abadá, é obrigado a ver o trio parar e esperar que o show exclusivo para o camarote aconteça. O grande barato de um trio elétrico é o fato dele ter rodas e acho que o que leva alguém a sair em um bloco é poder comprovar que atrás do trio elétrico só não vai quem já morreu. Um trio parado vira uma coisa sem a menor graça.
Imagino também o que pensa o folião pipoca que, atualmente, no circuito Barra / Ondina passou a não ter a menor importância. Se no camarote tiver gente, já basta.
O comportamento de meus amigos e colegas com relação a isso me preocupa. Apesar do atraso prejudicar a maioria, sinto um certo silêncio conveniente que me incomoda.
Esse ano teve apresentação exclusiva que durou quase uma hora. Acho inconcebível um trio elétrico parado por tanto tempo em um circuito que é para ser feito com ele andando. Enquanto uma minoria usufrui daquele momento, por vezes ocupado por discursos vazios e rasgações de seda sem a menor importância, milhares de pessoas ficam reféns da boa vontade de alguns que esqueceram que o carnaval de Salvador é uma festa de rua e deve ser feita prioritariamente para quem lá está.
A trilha sonora do carnaval já não saiu mais só das ruas. Os trios competem hoje com o som vindo de palcos montados em camarotes, o que aumenta o caos sonoro. Seria muito bom se os desfiles voltassem a ser feitos para todos. Para os foliões que pagam abadás, para o pessoal que fica na pipoca e para as pessoas que queiram assistir a festa de camarotes, varandas ou janelas. Os artistas que quiserem dar um “plus” a mais aos clientes dos seus camarotes, que acabem o desfile e voltem para lá. Aí sim, em um espaço privado, façam um show somente para quem estiver dentro. Outra alternativa é trocar o desfile da rua por shows em seus camarotes. O que não pode continuar a acontecer é a rua ser transformada em trampolim para apresentações dirigidas a uma minoria, sob pena de, nós, artistas que fomos fundamentais para tornar nossa festa tão cobiçada, sermos transformados nos verdadeiros vilões.
Sei que posso ser mal interpretado por alguns, mas nunca deixei de manifestar meus pensamentos. Não me excluo do problema. Muitas vezes, de cima do trio, me peguei cantando somente para o lado onde estão os camarotes. Apenas quero provocar na cabeça das pessoas uma reflexão. Já ficarei satisfeito se, no próximo ano, pelo menos algum artista, ao passar em frente a um camarote, lembrar que atrás do trio dele vem uma multidão que quer seguir em frente. Se nada for feito, correremos o risco de ouvir os nossos foliões dizerem os versos de um dos inúmeros sucessos do chicletão: “a fila andou, eu te falei, não deu valor, como eu te amei, agora chora, você já me perdeu, tou fora!!!”
Que venha 2012!
Ricardo Chaves
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Muito bem, você faz certo simem expor a sua opinião que é a de muitos fuliões q passaram por isso. APOIADO.
Espero que isso jamais acontece aqui no nosso CARNATAL. BJOS
concordo com tudo.
a festa é para todos.
Concordo! Paguei caro pra sair no Me Abraça, sou fã do Durval. Mas o merchan dele esse ano extrapolou, de um camarote ao outro…conversando demais, repetindo os hits para a "minoria"…resumindo, embromação. Começou no camarote da Skol na passarela, de lá foi andando até o Reino que são praticamente os maiores. Depois entrou no camarote Harém e no final ainda fez mais um showzinho exclusivo pro Camarote Salvador. Acho que Ricardo foi muito feliz em seu texto, o carnaval precisa ser repensado sim pra, é hora dos gigantes aí darem uma analisada.
Boa Ricardo! foi até agora a melhor análise que li e ouvi sobre o que anda acontecendo no nosso carnaval. Assim como vc e com vc já brinquei mtos carnavais (nâo vou contar, deixa pra lá rsrsrs) e sou defenssora do carnaval de Salvador, sobretudo pelo respeito à diversidade. Entretanto é claro que esse respeito tem sido negligenciado principalmente por aqueles que deveriam ser os "maestros" de nossa folia. Quero só chamar atenção para o comportamento de um artista que vai na contramão do que estamos falando. Saulo Fernandes, no comando de uma banda tão querida de todos que pertecem à nossa geração, a Banda Eva. Vi Saulo desfilar na Barra-Ondina cumprimentando a todos mas sem "paradas", sem falar da saída na terça sem cordas e do encontro na Praça do Poeta com Morais. Talvez o exemplo da Banda Eva no comando de Saulo possa representar uma saída para fazer a fila andar.
Fui um dos que fez parte do começo dessa nossa musica, denominada não sei por quem de axe, comecei no trio eletrico antigo, com percussão lateral e instrumentos de corda, como a esquecida guitarra baiana, eu como muitos outros, fomos atropelados pelos mesmos que hoje estao a frente desse carnaval, e que eram os mesmos que começaram esse atropelo, de muitos que si deram de corpo e alma, para que nosso carnaval fosse conhecido.sito alguns.LUIZ CALDAS, SARAJANE,LAURINHA, MARCIONILHO,SEU ORLANDO TAPAJOS JORGE ZARATH CARLOS PITA,JERONIMO,LUI MURITIBA,ZE NETO BUK JONES, CACIQUE JHONES.os proximos serão:CHEIRO DE AMOR E CARLINHOS BROW basta observar que os dois tiveram pouca divulgação da midia, e esse e o primeiro passo para o ostracismo..Ainda da tempo de salvar nossa historia. E parabens pela nota.
Concordo com você Ricardo e adimiro o respeito com os foliões! O Brasil precisa de mais artistas como você. Apezar de já conhecer as musicas, não era tua fã até esse carnaval, em Guamaré você mostrou porque está onde esta hoje. Sou mais uma fã incodicional sua!!! Parabens!!!
Espero que aqui em Natal não se repita esse exemplo de falta de respeito as pessoas que muitas vezes pagam com sacrifício para sair ao lado de seu artista preferido.
Perfeito o texto (desabafo) do Ricardo Chaves.
Até pra quem estava em outros estados e portanto vendo alguma coisa pela TV, sentiu, mais que nos outros anos, o quanto "alguns artistas" não estão nem um pouco preocupados com o público de uma forma geral, nem mesmo com os associados dos seus blocos, e sim apenas em agradar o "seu público" do seu camarote.
Vi, pela TV, artista que se julga um DEUS/DEUSA, chegar a ser agressivo, inclusive com colegas seus (outros artistas), por não poderem, naquele momento, atender aos SEUS anseios de reis/rainhas.
Valeu Ricardo Chaves!!!
Ricardo,
Além disso, acho também um desrespeito o artista que passa a maior parte do tempo cantando música dos outros e repetindo exaustivamente sua música de trabalho. Teve dia nesse carnaval que o Asa tocou 27 músicas de outros artistas. Uma banda de 25 anos tem repertório pra fazer um show diferente a cada dia do carnaval, sem precisar fazer isso.
Estendo esse comentário não só ao Asa. Já cansei de ver Cheiro, Chiclete, Eva e até mesmo você, para meu espanto.
Não acho ruim de ouvir uma ou outra música de outros artistas durante o bloco, mas vocês tem que lembrar uma coisa:
Se paguei pelo bloco Me Abraça, quero ouvir Asa, e não Jorge e Mateus
Se paguei pelo bloco Bicho, quero ouvir Ricardo Chaves, e não Fábio Jr
Se paguei pelo bloco Cheiro, quero ouvir Cheiro, e não funk
Abraços, e até o Carnatal!
Muitíssimo bem colocado! Agora RC, vc vai ser mais amado e odiado, mas teve coragem de colocar o dedo na ferida. Parabéns!
Eu concordo com tudo o que foi dito por Ricardo, inclusive a música a fila andou eu cantarolei ao deixar o Crocodilo depois de passar horas parado esperando Daniela terminar seu show para todo o camarote que passava. Sou muito fã dessa artista que considero um ícone, porém me sinto disprestigiado ao comprar o abadá de um bloco em que a cantora não dá a menor importancia ao associado. Não sairei mais no Crocodilo, acompanharei a Rainha Daniela em shows, camarotes e por aí.
Vc realmente é o caraaaa… Disse tudo. Sua resenha deveria estampar todos os jornais, para que pelo menos, os artistas e empresários lessem o que realmente se transformou o carnaval de SSA.
Parabéns!!! Vc deu um show em suas palavras que estavam travadas na minha boca com vontade de gritar.
Muito bem abordado essa questão do carnaval de SSA. Parabéns pelo texto. Uma outra coisa a ser falada é com relação ao atraso dos blocos que acontece devido essas paradas intermináveis de alguns artistas em frente aos camarotes e algumas emissoras de tv, principalmente quando estão ao vivo. É de uma total falta de respeito para com o folião que comprou um abadá e com a pipoca que ficam hooooras esperando seu artista passar. Um bloco que está marcado pra sair as 19h sai as 21h. Duvido que o folião que comprou seu abadá (nenhum pouco barato) goste desse tipo de acontecimento. Tem que ser repensado, urgentemente, esse tipo de coisa. Poucos artistas estão preocupados com o público, entre eles estão você e Saulo. Parabéns mais uma vez!
Acho que o buraco é mais embaixo. Afinal, a maioria dos donos de camarote são também donos de blocos. Todo o modelo tem de ser revisto… Essa micaretização do carnaval é o que mais me preocupa.
Meus sinceros parabéns pelo seu sucesso RC, muito bom esse texto. Moro em Natal-RN e passei esse ano o carnaval em Guamaré-RN, cidade onde vc fez um show de mais de 3h de duração no mela-mela da terça-feira, aliás um espetáculo de show, com a multidão cantando suas lindas músicas. Concordo totalmente que o carnaval, onde quer que seja, seja uma festa para o povo e não para uma minoria com uma condição financeira melhor. Agradeço a Deus pelo nosso CARNATAL, o MAIOR e MELHOR carnaval fora de época do Brasil, sendo formado pelo corredor da folia(onde se encontram os camarotes) e sendo formado principalmente pela circuito de rua, onde a pipoca se agita e curte de perto os seus ídolos da música sem ter que gastar rios de dinheiro pra isso. Acabou o Recifolia, o Fortal não é mais o mesmo, dentre outras micaretas Brasil afora que não existem mais, mas graças ao nosso bom Deus, o nosso CARNATAL cresce a cada ano, dando oportunidades para a população em geral. Que o carnaval de Salvador possa rever seus conceitos, tornando assim a maior festa popular do Brasil uma festa dignamente do povo. Um abraço RC e que Deus te ilumine SEMPRE!!!
Parabéns por tocar o dedo na ferida. Tem artista que adora pagar de intelectual, que só pensa na arte e na cultura, que prega respeito mas na hora do vamos ver, segura o trio por quase 2h atrasando absurdamente quem estava atrás. Quem saiu no bloco dessa artista diz que foi a última vez tamanha enrolação e conceitos atrasados pra uma festa popular na sua essência.
Você disse tudo , nosso verdadeiro carnaval é ATRAS DO TRIO ELETRICO só NãO VAI QUEM JÁ MOREU
bjsss Celinha
Assisti uma cena dantesca nesse carnaval que traduz a que ponto chegamos no carnaval de salvador: estava no camarote Skol na sexta e ao passar o trio de Ivete Sangalo o mesmo passou de forma rápida e a cantora em nenhum momento pode cantar para nós ficando o tempo todo virada para a ladeira do morro do gato. Fica clara a ditadura da cervejaria que a patrocina que deve exigir que ela exclua de suas apresentaçōes camarotes das cervejarias concorrentes. Tenho 35 anos e , pelo menos, 25 de carnaval e concordo com o texto de RC em sua totalidade! Carnaval de Salvador deixou de ser festa popular e os grandes artistas só querem faturar!
Concordo com tudo
Parabéns pelocomentário RC.Tenho anos de carnaval e a cada ano tá mudando p pior,esse ano mesmo na sexta feira ,no circuito barra- ondina em frente ao camarote da skol a cantora Claúdia Leite chegou desfilando pelos camarotes do reino e o da skol sem dar a menor atenção ao público do morro Ipiranga e simplesmente o povão começou a dar muitass vaias sem parar ,eu fiquei com muita vergonha do acontecido ,mais ela desrespeitou o folião pipoca e eu acho aquela idéias de passarela um absurdo ,um verdadeiro circo …tem que mudar essas coisas no carnaval de SSA se não vai ser o FIM !!!!
Amigo Ricardo Chaves, o que você escreveu é uma realidade que infelizmente estamos assistindo. Aspiro que boa parcela dos artistas, que cheguem a ler o seu desabafo, possam se unir a você! Pois é muito digno que foi dito… Você tem uma mega experiência e respeito em todo o Brasil.
Parabéns amigo!!!
Ricardo,cara,fiquei feliz com seu comentário,este que fala o que vem acontecendo realmente na folia Baiana, infelizmente!! Até meus amigos perceberam tudo isso que você falou.
Assimo embaixo!!!
Concordo com você Ricardo, é um grande desrespeito ao foliao que pagou o abadá e ao folião que ta na pipoca esperando o bloco passar, cada nao que passa o carnaval vai ficando para os grandes camarotes, tudo bem que exista mas com respeito ao foliao que está na rua na folia, esse ano mesmo fiquei mas de 2 horas esperando um bloco passar e quando vem, a considerada " rainha do carnaval" vem soltando a lingua um outro desrespeito a todos que estao ali,os artistas que tem camarote com o seu nome quer fazer um show particular para o seu camarote no próprio trio.
Lamentavel que isso aconteça, por que a festa vai perdendo o seu encanto.
Gostei do texto. E tem mais: tem muito artista que está mais preocupado em "aparecer" ao invés de tocar axé. Virou bagunça total. Aqui em Natal isso não acontece. A organização não deixa. Tudo é marcado e cronometrado.
Sim,esqueci de um detalhe:Tão querendo transformar o nosso carnaval em INDOOR, onde vem ocorrendo em outras cidades do país.
E ai foliões,vamos deixar isso acontecer???
Será que vamos ter que um dia pagar para entrar pra ficarmos na pipoca do Carnaval de SSA?